A guerra comercial entre Estados Unidos e China, a sinalização do Federal Reserve de quatro altas na taxa de juros neste ano, a greve dos caminhoneiros brasileiros e as incertezas acerca das eleições presidenciais no país configuram panorama de curto prazo complexo e pouco definido.

“Essa conjuntura deve impactar os mercados de commodities de maneira significativa, orientando as expectativas para o crescimento econômico mundial e do Brasil, rebalanceando o market share norte-americano no mercado chinês e conduzindo a trajetória do câmbio”, avalia o analista de mercado da INTL FCStone, Vitor Andrioli.

Em relatório especial divulgado ontem, “Perspectivas para Commodities”, a equipe de Inteligência de Mercado da INTL FCStone avaliou os principais fatores que movimentaram as commodities agrícolas nos últimos meses, bem como as tendências que guiaram os mercados ao longo do 3º trimestre de 2018.

Para os grãos, a situação dos fretes e da safrinha no Brasil e o desenvolvimento da safra dos Estados Unidos definirão a disponibilidade de soja e milho no mercado mundial. “Por mais que a China esteja comprando pouca soja dos EUA há alguns meses, as importações chinesas anuais chegam perto de 100 milhões de toneladas, mesmo com as estimativas de queda. Outros produtores, principalmente o Brasil, não são capazes de fornecer toda essa soja sem contar com o grão norte-americano”, explica a analista de mercado do grupo, Ana Luiza Lodi.

Por mais que as estimativas apontem para uma queda das exportações norte-americanas de soja, este efeito tenderia a ser mais relevante no curto prazo. Destaca-se que, com algum tempo para ajustes, os fluxos de comércio internacional da soja devem ser alterados, com outros países, excluindo a China, comprando soja dos EUA, atraídos por preços mais baixos, e os chineses tentando comprar o máximo de soja possível da América do Sul e de outros produtores menores na Ásia, deslocando outros demandantes.

CÂMBIO - Ao longo dos próximos meses a taxa de câmbio do real deve se manter bastante correlacionada ao movimento dos ativos de outras economias emergentes e ao noticiário internacional, além do cenário político brasileiro.

“No Brasil, a indefinição do quadro de candidatos, que ainda deve contar com uma indicação de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT), e a possibilidade de eleição de um governo menos reformista e com pouca previsibilidade na política econômica, somam-se aos fatores externos como fontes de apreensão”, destacou a INTL FCStone, em relatório especial divulgado ontem.

Destaca-se que, segundo dados da pesquisa CNI/Ibope, no cenário o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como indicado do PT, Bolsonaro (17%) e Marina Silva (Rede, 13%) aparecem tecnicamente empatados no primeiro turno. Em vista da rejeição de voto ser relativamente menor para Marina, de 18%, a candidata da Rede Sustentável é quem mostra atualmente maior potencial para vencer as eleições no segundo turno.

“Com a consolidação da perspectiva de vitória da candidata, a taxa de câmbio do real deve manter-se volátil e com viés de alta nos meses que antecedem as eleições”, avalia o analista de mercado da INTL FCStone, Vitor Andrioli.

Em contraponto, a intervenção mais intensa do Banco Central, por meio de leilões de linha e da oferta de novos contratos de swap cambial, pode contribuir para atenuar a trajetória construtiva do dólar no mercado doméstico. Em seus últimos anúncios, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou que a instituição atuará para garantir liquidez e a tranquilidade nas negociações.

No cenário externo, a perspectiva de desaceleração no crescimento da economia mundial, como resultante da postura protecionista adotada pelo governo norte-americano e das ações retaliatórias de outras economias, reduz o apetite dos investidores por risco e desfavorece as moedas mais fracas.

“Uma agravante nessa tendência é a mudança no tom da política monetária do Federal Reserve, que tem caminhado na direção da normalização da taxa de juros em resposta à aceleração da inflação no país e ao mercado de trabalho apertado, assim como pela retirada dos estímulos quantitativos promovidos pelo Banco Central Europeu”, resume Andrioli.