A maior produção de cana-de-açúcar, aliada aos bons preços dos subprodutos, principalmente o do etanol hidratado, vai marcando a safra mato-grossense como de produção de combustível, em detrimento do açúcar, cuja produção permaneceu praticamente estável em relação à safra anterior. E a oferta, prevista em mais de 920 milhões de litros, se confirmada, será a maior já registrada na série histórica local da cana.

Se a estimativa se confirmar, o volume produzido em Mato Grosso estará entre as cinco maiores do país, atrás das previsões para Mato Grosso do Sul com 2,70 bilhões de litros, Goiás com 4,40 bilhões de litros, Minas Gerais com R$ 2,65 bilhões e São Paulo, maior produtor e consumidor do biocombustível do país, com 13,70 bilhões de litros.

O apontamento, que faz parte do quarto acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar, divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destaca que o etanol esteve com preços mais competitivos em relação à gasolina até março de 2018, incremento esse que estimulou o aumento da produção do bicombustível pelas plantas mato-grossense e permitiu que a safra 2017/18 fosse predominantemente ‘alcooleira’.

A safra foi regida por condições climáticas favoráveis às lavouras de cana-de-açúcar. Durante praticamente todo o ano de 2017, os produtores relataram precipitação pluviométrica dentro do ideal. Quanto à produção estadual de cana-de-açúcar, alcançou o volume de 16,7 milhões de toneladas, aumento de 1,5% em relação as 16,3 milhões de toneladas do ciclo 2016/17.

Em relação aos subprodutos, o total de cana destinado à produção do açúcar caiu em -14,7%, mas a oferta do produto será 3,2% maior que a anterior. Já a produção de etanol no Estado deverá ofertar um volume total (anidro e hidratado) de mais de 1,49 bilhão de litros, sendo 276,57 milhões de litros a mais, 22,7%, que o registrado no ciclo passado.

A maior parte do etanol será transformada em hidratado, estimada em 920,44 milhões de litros, o que se confirmada será 32% maior que em 2016/17. Em números, o volume crescerá 223,22 milhões de litros ‘novos’.

O etanol anidro, que é o etanol adicionado à gasolina, deverá somar 53,34 milhões de litros a mais, ofertando ao final desse ciclo 576,83 milhões de litros, alta anual de 10,2%.

QUALIDADE – O ATR da cana-de-açúcar é um dos fatores que representa a qualidade da cana, ou seja, a capacidade de ser convertida em açúcar ou etanol através dos coeficientes de transformação de cada unidade de produção. Ele é medido em quilograma de açúcar total recuperável por tonelada de cana-de-açúcar. Os fatores que impactam esse importante indicador são muitos, dos quais podemos citar a maturação, a época do corte, impurezas presentes na colheita (solo, folhas, palha, por exemplo), demora no processamento da cana colhida, os tratos culturais utilizados, ataques de pragas e doenças, condições climáticas (geadas e intensidade das precipitações) e até o processo industrial. “Esses fatores impactam todas as safras, em menor e maior intensidade, mas o que tem os maiores pesos são as condições climáticas, impossíveis de serem previstas com precisão necessária, o aumento das impurezas minerais e vegetais, propiciados pelo corte mecanizado, e as variedades utilizadas”, explicam os analistas da Conab.

Em Mato Grosso, as chuvas se intensificaram no início da fase de colheita, em abril, atrasando os trabalhos e reduzindo o ATR médio, contudo, no decorrer do ano, as condições climáticas permitiram o avanço dos trabalhos sem demais problemas, inclusive favorecendo uma melhor produtividade final.

A menor área colhida no atual ciclo ainda é reflexo da

falta de investimento na manutenção e ampliação do espaço dedicado às lavouras de cana-de-açúcar há alguns anos. No caso, existe a particularidade da cultura que é semiperene com ciclo relativamente longo, assim a menor área colhida nesta safra foi parte do planejamento agrícola de três a seis anos atrás, quando o setor sofria com a falta de investimento.

A safra 2017/18 no Estado também registrou maiores investimentos industriais e agrícolas, diferentemente dos últimos anos. Assim, o clima favorável, aliado ao melhor manejo, resultou em produtividade média de 70.974 kg/ha, rendimento de 0,2% inferior ao registrado na safra passada, que foi de 71.093 kg/ha. O mesmo não ocorre com o ATR, cuja concentração de açúcares foi de 154,2 kg/t para 186,7 kg/t devido às excelentes condições climáticas.

Com o aumento da colheita mecanizada no Brasil, o índice de uso de queima da cana-de-açúcar caiu e, com isso, aumentou o índice de impurezas vegetais presentes no produto colhido. Com esse processo, uma maior quantidade de palha é processada junto com a cana-de-açúcar e reduz a eficiência da extração.