Somente em fevereiro, as estatísticas do Mapa da Dispersão da doença, do Consórcio Antiferrugem, apontam para um novo caso por dia, já que de 1º até o dia 15, foram 15 novos registros. Em todo o país, ate ontem, 419 casos estão confirmados, sendo a maior parte deles, 109, no Paraná. Mato Grosso é o quarto em quantidade de registros. Em todo mês de fevereiro do ano passado, durante o ciclo 2016/17, foram confirmados apenas 3 casos da doença.

Como alerta o pesquisador e consultor técnico da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Fabiano Siqueri, o potencial e a virulência da doença estão sendo intensificados com as atuais condições de clima, inclusive pelo momento da safra, já que a variedades mais precoces estão sendo colhidas, restando no campo as cultivares de ciclo mais longo, que serão justamente àquelas plantas que irão ficar mais tempo vulneráveis ao ataque do fungo causador da ferrugem.

Nessa semana, em uma estação experimental da Fundação MT, em Campo Novo do Parecis (398 quilômetros ao noroeste de Cuiabá), ele fez uma avaliação in loco da situação da doença que serve de alerta aos produtores, não apenas de Campo Novo, mas de todo Estado. Na fazenda São Miguel, onde se situa o campo experimental, o primeiro foco de ferrugem foi detectado no dia 10 de janeiro desse ano e pouco mais de um mês depois, a situação se agravou atingindo um “nível de severidade”, como avaliou o pesquisador. “Acreditamos que o nível de severidade tenha atingido mais de 80% das plantas”, exclamou. O alerta foi feito em um vídeo, no qual Siqueri, dentro da lavoura, mostra as plantas acometidas pela ferrugem. “Nosso objetivo, como entidade, e mostrar que a doença está severa e chamar à atenção dos produtores para necessidade de monitoramento constante e de encurtar os intervalos de aplicação de fungicidas. Nossa maior preocupação se volta aos produtores que semearam as lavoura a partir de novembro e que têm grandes chances de sofrer com a ferrugem nessa safra”.

Como reforça Siqueri, os produtores que cultivaram a soja no mês de novembro ou a partir de novembro utilizaram materiais de ciclo mais longo, de 115 a 120 dias, deverão sentir a virulência da doença em suas lavouras. “Para esses agricultores, principalmente para eles, mas sem excluir os demais, é que fazemos esse alerta para que intensifiquem a vigilância dentro dos talhões, encurtem os intervalos entre as aplicações, e impreterivelmente, apliquem os reforços com os fungicidas sistêmicos indicados ao ciclo final das plantas sejam eles fungicida protetor, com ação multissítio, triazóis ou morfolinas ou, multissísticos. Estamos nessa safra vivenciando um período de altíssima pressão e de alto potencial de dano da doença nesse ano”.

A tendência é de aumento nos focos da doença na medida em que clima se mantém úmido (chuvoso) e com altas temperaturas.

Conforme dados do Mapa da Dispersão da doença, do Consórcio Antiferrugem, Tangará da Serra lidera os volumes de casos confirmados com nove focos, seguido por Sorriso com seis casos e Campo Verde com cinco.

Além do clima, que deve se manter chuvoso e quente no decorrer desse mês, outro fator acende a luz vermelha de alerta para a doença: a intensificação da colheita a partir de agora que deve proliferar os fungos. Mesmo lavouras em que não foram vistos danos causados pela ferrugem, é possível haver esporos que são levados para outras áreas por meio do vento, ação que atinge em cheio as lavouras de ciclo mais tardio que vão ficar mais tempo exposta ao clima e à doença.

A DOENÇA - A doença, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi é considerada uma das mais severas que incidem sobre a cultura e pode ocorrer em qualquer estádio fenológico (desenvolvimento). Plantas infectadas apresentam desfolha precoce, comprometendo a formação e o enchimento de vagens, reduzindo o peso final dos grãos e demandando mais custos de combate e controle ao produtor. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção.