Em meio à realização da Semana Mundial de Conscientização do Uso Racional de Antibióticos 2017, que vai até domingo (19), enquanto o Brasil deu um importante passo no controle de antibióticos na criação pecuária, os Estados Unidos estão em divergência com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A organização internacional divulgou novas diretrizes, no último dia 7, recomendando que produtores e indústrias parem de utilizar rotineiramente antibióticos que promovem o crescimento e a prevenção de doenças em animais saudáveis, alegando que o uso excessivo vem contribuindo para crescer a resistência de bactérias a antibióticos. Rapidamente, Chavonda Jocobs-Young, cientista-chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), rebateu as orientações:

“As diretrizes da OMS não estão alinhadas à política norte-americana e não tem base científica sólida. As recomendações combinam erroneamente a prevenção de doenças com a promoção do crescimento de animais”.

AgroPrevine: antibióticos em animais

Se por um lado os Estados Unidos divergem, o Ministério da Agricultura aproveitou a proximidade da semana organizada pela OMS e publicou no final da última semana a Instrução Normativa nº 41/2017, que institui o AgroPrevine: Programa Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos na Agropecuária.

Suzana Bresslau, integrante da Comissão sobre Prevenção da Resistência aos Antimicrobianos em Animais do Mapa, afirma que essa não uma novidade, mas a formalização de um plano nacional realizado em parceria com o Ministério da Saúde e a Agência de Vigilância Sanitária e outros ministérios. O objetivo é fortalecer ações para prevenção e controle da resistência aos antimicrobianos na agropecuária, seguindo os preceitos da OMS.

Confira a lista do Ministério da Agricultura de aditivos autorizados e proibidos na alimentação animal

“O detalhamento das atividades previstas no Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no âmbito da agropecuária é alinhado ao Plano de Ação Global e seguirá as recomendações das diferentes organizações internacionais, como OIE (Organização Internacional de Saúde Animal), OMS e Codex alimentarius, além de aproveitar como referência os países que já executam essas ações”, afirma Suzana Bresslau.
O Codex Alimentarius é um guia de práticas adotadas por um programa conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde.

Crítica norte-americana

A diretora do USDA critica o fato de as recentes normas da OMS terem sido estabelecidas antes de uma nova reunião internacional do Codex Alimentarius. Jocobs-Young destaca que a Administração de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos permite o uso de anti-microbianos no tratamento, controle e prevenção animal, mas afirma que as diretrizes da OMS impõem restrições desnecessárias e pouco realistas aos profissionais veterinários.

Apesar da crítica, algumas cidades e empresa norte-americanas estão revendo suas políticas sobre o uso de antibióticos. São Francisco, na Califórnia, por exemplo, aprovou uma lei que exige de fornecedores de alimentos detalhes sobre esse uso em animais. Em 2016, o McDonalds iniciou o processo de compra de compra de carne de frango livre de antibióticos e a Cargill anunciou a intenção de reduzir o uso de 20% desses medicamentos em bovinos nos Estados Unidos.